(24 de Novembro de 1906 - 19 de Fevereiro de 1997)
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, também conhecido pelo pseudónimo literário de António Gedeão, foi poeta, professor e historiador da ciência portuguesa.
Licenciou-se no Porto em Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Colaborou em revistas de divulgação de temas científicos, como a Revista “Gazeta de Física" da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; publicou diversos manuais escolares e muitos artigos e livros nas áreas de Ciência, Tecnologia e História.
Revelou-se como poeta em 1956, com a obra “Movimento Perpétuo”. A esta viriam juntar-se outras obras, como “Teatro do Mundo” (1958), “Máquina de Fogo” (1961), “Linhas de Força” (1967) entre outras.
Na sua poesia, reunida em “Poesias Completas” (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo autor que, alia o rigor científico ao sofrimento, à compreensão da solidão humana.
Em 1963 publicou a peça de teatro “RTX 78/24” (1963) e mais tarde a sua primeira obra de ficção, “A Poltrona e Outras Novelas” (1973).
"Os seus poemas lírico-didácticos, de constatação das coisas, de explicação dos fenómenos conseguem a fusão das duas atitudes habitualmente separadas; a sua viva inteligência, a sua palavra serena penetram a mecânica do mundo físico e criam os seus correlatos no jardim das ideias e das sensações. (...)
António Gedeão não perde de vista, na sua poesia de amplitude cósmica, o passado português, mas não comenta as proezas de príncipes e heróis: o seu sentido da história volta-o para o colectivo, para o povo e para as grandes mudanças operadas na natureza pelos homens. "
URBANO TAVERES RODRIGUES
in "António Gedeão: decifrador do mundo, alquimista do sonho"
(Discurso proferido na sessão plenária e pública da Academia das Ciências de 28 de Novembro de 1996 e publicado in Memórias da Academia das Ciências de Lisboa. Classe de Letras, Lisboa, t. 33 (1966-1997), p. 157-169).
"Um dos aspectos que mais marcam a poesia de António Gedeão é aquela espécie de serenidade primordial que a cada verso alisa as arestas do tempo. Que uma lisura a identifica.
António Gedeão escrevia como quem vai fazendo o diário compassado de uma perplexidade elementar, ou como quem tacteia o mundo e o interroga:
Entre mim e a Evidência
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
Que apoquenta.
[…………………………]"TERESA ARSÉNIO NUNES
in "Por uma linha recta mais suposta que o areal e o mar"
Poemas seleccionados
Amador sem coisa amada
Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.
Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.
Gota de Água
Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.POEMA DO ADEUS
Exigem novas leis que os olhos não se alegrem
quando as folhas das árvores lhes acenam;
quando o lagarto ao Sol o erótico pescoço,
erecto e circulante
como um radar,
transforma as ondas mansas
em lúbricas tensões.
Não mais murmúrios de águas nem aromas de pinhos
que os ouvidos antigos recolhiam
e os narizes hauriam sequiosos
como exaustores de fumos;
não mais abrir os olhos e fechá-los
sob a língua da luz lambendo morna
o convexo das pálpebras;
não mais levitação do corpo no silêncio,
o porte da doninha na iminência
do que nunca acontece.
Pois que sejam meus olhos que ao fecharem-se
levem consigo a imagem derradeira
da fragrância poética do mundo;
que em meu rosto bafeje o último hálito
das magas transparências inventadas;
que nele roce a última das aves,
de benévolas asas estendidas
que em construídos céus nos redimiram
da frágil condição de ser humano;
que as últimas mensagens
dos emissores piratas, clandestinos algures
no fundo dos cristais,
no pistilo das flores,
nas escamas dos peixes,
encontrem meus ouvidos.
Que a terra me seja leve.
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
in "Movimento Perpétuo", 1956
Pedra Filosofal, canção interpretada por Manuel Freire.
ACTIVIDADE
1. António Gedeão era poeta, Rómulo de Carvalho era _______________________.
2. António Gedeão era o nome de Rómulo de Carvalho enquanto ______________.
3. Apelido do pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho.
4. A exposição na Biblioteca Nacional sobre Rómulo de Carvalho / António Gedeão intitulou-se “____________________ é o meu nome”.
4. A exposição na Biblioteca Nacional sobre Rómulo de Carvalho / António Gedeão intitulou-se “____________________ é o meu nome”.
5. Nasceu em 1906, foi professor e impulsionador da Física e investigador da História da Ciência.
6. Em 1983, Gedeão publica “_____________________ Póstumos”.
7. O poema mais célebre de Gedeão será talvez “ __________________" (segunda palavra).
8. Rómulo de Carvalho foi professor no Liceu ________________________ Nunes.
9. Aos onze anos, Rómulo escreveu uma continuação dos ___________________.
10. A disciplina que Rómulo de Carvalho leccionava era _____________________.
11. Rómulo de Carvalho era casado com a escritora _________________ (segunda palavra).
12. O cantor que mais divulgou Gedeão foi _________________________ (segunda palavra).
13. Outro dos poemas mais conhecidos de Gedeão intitula-se “_____________ de Carriche”.
14. Título de outro dos mais famosos poemas de António Gedeão.
15. Um dos livros escritos por Rómulo de Carvalho para a colecção “Ciência para gente nova” chamava-se "História da _____________________".
A meio, a coluna não numerada inclui o nome da disciplina em que estudas a poesia de A. Gedeão.
Actividade: Soluções
"Pedra Filosofal" - Poema Ilustrado